A safra de algodão 2022/23 no Brasil representa um marco histórico para a cotonicultura nacional. Com avanços significativos em relação ao ciclo anterior, as condições das lavouras ao longo dos meses evidenciam um cenário promissor para o setor.
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Em 16 de outubro, a Abrapa (Associação Brasileira dos Produtores de Algodão) divulgou um dos últimos relatórios deste ano agrícola. Com 100% da colheita concluída e 64% já beneficiado, a revisão da estimativa dos resultados foi positiva, apresentando incrementos de produção e produtividade. A quantidade produzida deve ser 26,5% superior à safra anterior (3,23 milhões de toneladas).
Acompanhando essa evolução, o USDA (Departamento de Agricultura dos Estados Unidos) apresentou um cenário muito vantajoso para o Brasil ao atualizar, em 09 de novembro, os dados previstos para a safra 2023/24 (WASDE – World Agricultural Supply and Demand Estimates): pela primeira vez na história é possível que o Brasil ultrapasse os EUA em produção.
Diante desses dados, este artigo fará uma análise das expectativas de produção, produtividade, exportação e mercado para 2024, considerando o que os órgãos oficiais estão divulgando a respeito das condições para cultivo e comercialização do algodão brasileiro.
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Uma análise rápida do WASDE permite entender que as projeções para os EUA estão muito incertas – a cada novo relatório há revisões dos números para cima ou para baixo –, enquanto o Brasil avança com dados mais otimistas a cada atualização, inclusive no que se refere à exportação de algodão, com grandes chances de, no biênio 2023/24, ultrapassar o concorrente também nesse quesito.
Nesse cenário, o ranking dos maiores produtores de algodão do mundo deve sofrer alterações em um futuro breve. Com base nas projeções do já mencionado relatório da USDA para a safra 2023/24, a dinâmica ficaria assim:
- China – 5,87 milhões de toneladas;
- Índia – 5,44 milhões de toneladas;
- Brasil – 3,2 milhões de toneladas;
- Estados Unidos – 2,8 milhões de toneladas.
Até então, o maior exportador de algodão do mundo continua sendo os EUA, mas os avanços do Brasil e os recuos da produção estadunidense ainda podem reverter este quadro, cuja projeção é a seguinte:
- Estados Unidos – 2,65 milhões de toneladas;
- Brasil – 2,56 milhões de toneladas;
- Austrália – 1,26 milhões de toneladas.
Diante disso, o final de 2023 indica atenção às cotações e ao desempenho brasileiro na arena global, onde o país desponta com força no segmento das commodities agrícolas. A Abrapa já confirmou: o Brasil não só superou a produção dos EUA, mas também se posicionou como o terceiro maior produtor de algodão do mundo, um feito impressionante que reforça o potencial agrícola brasileiro.
Essa ascensão também gera benefícios tangíveis para o produtor rural, que alcança melhores oportunidades de negócios. O aumento da produção está alinhado às práticas agrícolas modernas e à adaptação às mudanças climáticas, além de uma gestão eficiente da cadeia produtiva.
Os bastidores da safra de algodão 2023/24
Os cotonicultores brasileiros encararam diversos desafios na temporada 2023/24, incluindo a necessidade de ajustar-se às variações climáticas, que exigem estratégias resilientes e inovadoras. As plantações de algodão demandam atenção redobrada, adaptações no cultivo e o emprego de tecnologias avançadas para garantir o máximo potencial produtivo.
As primeiras estimativas da Abrapa indicam um aumento de 8,4% na área plantada de algodão na safra 2023/2024, alcançando 1,81 milhão de hectares. A produção esperada de 3,2 milhões de toneladas é 2% superior à safra anterior. No entanto, prevê-se uma queda de 5,9% na produtividade, resultando em uma média de 1.818 quilos de pluma por hectare, por conta do clima.
O fenômeno climático El Niño provavelmente estará influenciando o clima no primeiro semestre de 2024, com mais de 70% de chances de ocorrência. Durante os meses de outubro de 2023 a fevereiro de 2024, a predominância do efeito El Niño é de 100%, de acordo com o CPC NOAA. O El Niño é geralmente associado a menores volumes de chuva no Nordeste do Brasil e temperaturas acima da média no Centro-Oeste brasileiro, impactando a produtividade das lavouras de algodão.
O manejo adequado aliado a uma observação atenta às previsões meteorológicas é o que permite superar os obstáculos naturais e econômicos, consolidando a cultura do algodão como um pilar da agricultura brasileira.
Mercado internacional de algodão nunca foi tão favorável para o Brasil
A cotonicultura brasileira se beneficia de um cenário internacional em que a produção dos EUA apresentou retração, abrindo espaço para a pluma brasileira. Diversos fatores contribuíram para essa mudança de guardião, incluindo questões climáticas, econômicas e políticas que afetaram o cinturão do algodão norte-americano.
As exportações de algodão brasileiro em setembro de 2023 totalizaram 186,5 mil toneladas, gerando uma receita de US$ 350,1 milhões, um aumento de 1% em relação ao mesmo mês de 2022, mas o preço médio por tonelada vendida caiu 17% em relação a 2022.
A China foi o país destaque em exportação, representando 61% do total embarcado – com um aumento de 34 mil toneladas em comparação com o mesmo período do ano passado –, seguida de Vietnã, Bangladesh, Turquia e Indonésia.
No acumulado de agosto a setembro de 2023, os dois primeiros meses do calendário agrícola 2023/24, as exportações totalizaram 291 mil toneladas, com uma receita de US$ 537,1 milhões, um aumento de 17,4% em relação ao mesmo período de 2022. A China também foi o principal destino nesse período, representando 56% do total embarcado.
As exportações de algodão estimadas para o período comercial de 2023/24 são de 2,40 milhões de toneladas, um aumento de 66% em relação ao momento atual.
Com essas projeções, a indústria nacional tem a oportunidade de expandir sua presença nos mercados internacionais e fortalecer sua posição como um dos principais players globais nesse setor. O Brasil é reconhecido pela alta qualidade de seu algodão, o que garante a preferência dos compradores internacionais.
O aumento da demanda externa impulsiona a produção, cria empregos no setor agrícola e gera receita para o país. Além disso, a entrada de divisas provenientes das exportações contribui para o equilíbrio da balança comercial brasileira.
No entanto, é importante acompanhar de perto as condições do mercado global e as flutuações nos preços internacionais do algodão. Eventuais mudanças no cenário econômico mundial ou na demanda dos principais importadores podem afetar as exportações brasileiras. Portanto, é essencial que produtores e exportadores estejam atentos às tendências do mercado e se adaptem de forma estratégica para maximizar as oportunidades e minimizar os riscos.
No geral, as perspectivas positivas para as exportações de algodão brasileiro no período comercial 2023/2024 são um sinal encorajador para o setor e refletem a qualidade e a competitividade do produto nacional. Com uma gestão eficiente, parcerias sólidas e uma abordagem estratégica, o Brasil tem todas as condições para se manter como um importante protagonista no mercado global de algodão.
Com isso, a pluma brasileira ganhou destaque, evidenciando a capacidade do país de atender a demandas crescentes e diversificadas, reforçando seu papel como um dos maiores exportadores de algodão do mundo.
Qualidade do algodão brasileiro abre mais oportunidades de negociação
A Abrapa e outras entidades têm desempenhado um papel crucial na promoção da qualidade do algodão brasileiro. A busca por sustentabilidade, rastreabilidade e práticas agrícolas responsáveis tem sido uma bandeira do setor, atendendo às crescentes demandas do mercado têxtil mundial.
O Relatório de Qualidade de outubro de 2023, que avalia amostras de 100% da produção da recém-colhida safra 2022/23 em comparação com as anteriores, mostra avanços em seis dos sete índices monitorados pelo HVI (High Volume Instrument) – equipamento que mede as características da fibra do algodão. Isso valoriza o algodão brasileiro no mercado global e atrai mais compradores.
Assim, o algodão brasileiro não é apenas uma commodity; ele é um produto que carrega valores de responsabilidade socioambiental e compromisso com a qualidade, o que tem aberto novas e valiosas oportunidades de negociação nos mercados internacionais, uma tendência que deve se manter em 2023/24, embora o clima possa gerar desafios para a manutenção do avanço dos índices qualitativos da fibra.
Algodão sustentável produzido no Brasil ganha destaque no mercado
Além das oportunidades de aumento das exportações de algodão brasileiro, é fundamental que a indústria busque a sustentabilidade e a responsabilidade ambiental em suas práticas, algo que o Brasil vem tirando de letra, de maneira a conquistar os mais conscientes consumidores e países importadores.
Dessa forma, investir em práticas agrícolas sustentáveis, como o manejo adequado dos recursos hídricos e a preservação da biodiversidade, pode se tornar um diferencial competitivo para o algodão brasileiro no mercado internacional.
Nisso, está inclusa também a transparência em relação às condições de trabalho nas fazendas e o respeito aos direitos humanos. A adoção de certificações ambientais e sociais, juntamente com a implementação de programas de rastreabilidade, por meio de ações como a Sou de Algodão, demonstra o compromisso do Brasil em fornecer um algodão sustentável e ético.
A diversificação dos destinos de exportação também é relevante para reduzir a dependência de um único mercado e mitigar os riscos associados a flutuações econômicas ou políticas de um país específico.
Por fim, é importante que o setor continue investindo em pesquisa e desenvolvimento para melhorar a produtividade e a qualidade do algodão brasileiro. O aprimoramento de técnicas de cultivo, a utilização de variedades mais produtivas e resistentes a pragas e doenças, bem como a adoção de tecnologias avançadas, contribuirão para a competitividade do país no cenário global.
Diante disso tudo, o Brasil também pode ultrapassar os EUA em exportação, avançando não somente de ranking de maiores produtores, desde que haja um compromisso contínuo com sustentabilidade, qualidade e inovação. Com as estratégias adequadas e um ambiente favorável, o Brasil pode buscar um crescimento consistente e fortalecer ainda mais sua posição como um dos principais players globais do setor têxtil.
A cotonicultura brasileira vive um momento histórico, não só em volume, mas também em reconhecimento de qualidade e sustentabilidade. A safra 2023/24 será resultado do esforço conjunto de produtores, entidades e empresas de tecnologia agrícola, que juntos pavimentaram o caminho para que o Brasil se tornasse um protagonista no palco global do algodão. Esse sucesso tende a render frutos duradouros para a economia e para o setor agrícola.
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